Existem controvérsias sobre a criação da aldeia de São Francisco Xavier de Itinga entre diferentes estudiosos do tema. Entretanto, a hipótese mais comprovada pela documentação é a de que a aldeia teria se originado a partir da catequese de índios carijó da lagoa dos Patos estabelecidos pelos jesuítas na ilha de Marambaia, de onde foram transferidos para o sítio de Itaguaí, próximo à fazenda de Santa Cruz, administrada pela Companhia de Jesus. Em decorrência dos vários ataques de paulistas à região anteriormente ocupada pelos carijó, essa transferência teria sido realizada em 1627. A aldeia São Francisco Xavier de Itinga (depois Itaguaí) foi criada, provavelmente, para suprir as necessidades das autoridades coloniais e dos missionários por serviço indígena. Com as reformas de Pombal, a aldeia tornou-se paróquia e, portanto, freguesia, em 1759. Localizada nas terras da fazenda de Santa Cruz, que pertencera aos jesuítas, a aldeia foi alvo de disputas entre índios e os novos administradores da propriedade. Entre o final do século XVIII e os primeiros anos do oitocentos, a aldeia teria sido extinta três vezes, voltando a se constituir em virtude dos esforços dos índios e de seu líder, que chegou a ir ao Reino para obter a restituição das terras. As disputas envolvendo complexas relações de conflitos e alianças entre índios, moradores e o arrematante da fazenda continuaram ao longo do século XIX em torno da elevação da freguesia à categoria de vila, no mesmo local onde estava a aldeia. De acordo com a Câmara Municipal, em 1818 a criação da vila teria marcado o fim da aldeia, porém o Aviso Régio de 1824 ainda atendia à solicitação do índio Thomaz Lopes e concedia porção de terra da Fazenda de Santa Cruz para que os índios fizessem suas plantações. No mesmo ano, portaria do Imperador os considerava cidadãos, o que significou o acesso individual a pequenos lotes das terras do aldeamento.
Bibliografia
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