São José de Leonissa da Aldeia da Pedra foi estabelecida em 1808, na margem direita do rio Paraíba do Sul no norte fluminense, para aldear índios puris, inimigos dos coroados, que já haviam sido aldeados em São Fidélis. O frei capuchinho Tomás de Castello, encarregado de catequizar e civilizar os índios na aldeia, já havia feito incursões na região, inclusive batizando, casando e celebrando missa entre os puris. Devido a esse contato, o capuchinho ajudou a estabelecer a aldeia de acordo com a escolha dos índios e de suas lideranças, numa área de expressiva presença e relativa autonomia dos indígenas, já que estava a certa distância de povoados e fazendas. Apesar das investidas religiosas, os missionários encontraram dificuldades na submissão dos puris, que só se aldearam alguns anos depois em Santo Antonio de Pádua. Na Aldeia da Pedra, passaram então a ser aldeados majoritariamente os coroados e os coropós, embora puris e outros indígenas, como os botocudos, continuassem a circular pela região. Apesar do levante de 1814 liderado por um coropó contra a presença de “portugueses” na aldeia, em 1818, frei Tomás de Castello passou a distribuir terras da aldeia para não índios considerados “benfeitores” e “morigerados”, para que tivessem roçado e desenvolvessem outras atividades. Assim, foi estimulada a presença de não índios na aldeia, o que levou ao aumento de conflitos por terras. Moradores das vizinhanças e fazendeiros invadiam as terras indígenas, apesar da determinação de 1826 para que elas fossem medidas e demarcadas e dos ofícios e petições que, ao longo da década de 1840, reivindicavam a regularização do seu traçado. Diante do processo de invasão das terras e dos contatos entre índios e não índios, autoridades locais afirmavam, em 1878, que a aldeia da Pedra não mais existia, embora fosse possível perceber a presença indígena na região como mão de obra nas fazendas vizinhas. Alguns anos depois, naquela área, foi criado o município de Itaocara (1890).
Bibliografia
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